terça-feira, agosto 04, 2009




O anjo subiu as escadas para o seu apartamento carregando duas sacolas, não gostava do elevador, podia sentir de longe que alguma coisa muito ruim havia acontecido ali, não podia dizer quando nem o quê, mas sentia o fedor da maldade, um cheiro acre que as vezes permeia lugares assim.Gostava das escadas, a repetição dos degraus e portas o fazia lembrar de casa, e as escadas não tinham aquele fedor, entrou no seu corredor assoviando uma música que havia escutado na rua, algo sobre violência e bebida, ou coisa parecida. Na porta de seu apartamento estava ela, sentada no chão, não sabia dizer se ela chorava ou simplesmente balbuciava alguma coisa,ele não se importava.

-"E então, Maria, decidiu voltar? Achei que estava com medo de mim..."

-"Eu tive um sonho hoje a tarde, preciso de respostas..."

O anjo assentiu com a cabeça, sabia do que se tratava, não era raro que os escolhidos apresentassem sonhos premonitórios a medida em que algum evento importante se aproximava, era o papel dos guias a mais de dez milênios oferecer algumas respostas, mas ele sempre foi um soldado, nunca um guia...
Ela estava sem maquiagem, vestia um short e uma blusa de verão, como se estivesse vindo da praia, o anjo podia sentir o cheiro de areia e óleo de bronzear pelo seu corpo.A pele bronzeada e seu decote o faziam se sentir estranho. Ela entrou logo que ele abriu a porta, mantinha seus braços em volta de seu corpo como se isso lhe oferecesse alguma proteção

– Você não vai me machucar, não é?
Apesar de seu estado seu olhar mostrava convicção

-Você sabe que não.
Ela sorriu

-Desculpe por sair tão rápido aquele dia, mas isto me assustou.
Apontava pro grande mural na parede do anjo, onde fotos dela e anotações dele subiam pela parede como uma espiral de loucura.

-Pois é , isso ajuda a me organizar, você não eh uma pessoa facil de se proteger, sabia?

Ela abaixou os olhos como se considerasse cuidadosamente suas próximas palavras:
-No meu sonho um anjo com asas de fogo e uma cabeça de pássaro me dizia para confiar em você, foi tudo tão real, ele me disse seu nome, mas não consigo me lembrar...

-Balthazar é um exibido,sempre foi, mas suas palavras são verdadeiras, você está segura aqui.
O anjo abriu uma das sacolas que carregava e puxou uma caixa de cerveja, abriu uma e deu um grande gole.

-Agora...porque colocaram um fracasso como eu para lhe proteger não sei, achei que Ele havia me abandonado... – Apontou para cima.


Deu mais um gole em sua cerveja, ofereceu outra a ela
-Não bebo cerveja, isso dá barriga, sabia?
O anjo revirou os olhos

-O que mais você deseja saber? Disse

-Esse anjo de asas de fogo, ele me disse que um grande mal estava para acontecer, e que no final tudo dependeria de mim, mas o que isso quer dizer? Eu sou so uma garota, não sei nada sobre essa loucura, só quero viver a minha vida.

O anjo se lembrou de um homem que conhecera que havia dito estas mesmas palavras há muitos anos atrás, esboçou um pequeno sorriso...
De repente o elevador emitiu um pequeno sinal, um sinal que indicava que suas portas estavam sendo abertas, o anjo congelou, sentiu o cheiro de enxofre e lágrimas imediatamente, seria possível que eles haviam seguido ela até ali?

-Dentro do armário, Maria Eduarda, agora!

-Mas...

Antes que ela pudesse retrucar o anjo a pegou com um braço e em um segudo a trancou dentro de seu armário, foi tão rápido que ela mal percebeu que havia mudado de lugar.
A porta do apartamento rangeu, se retorceu, depois tombou, um gigante adentrou a sala, seus olhos eram negros como a noite, vestia uma camiseta branca e uma calça jeans, era forte, muito forte, careca e com um cavanhaque bem aparado.

-Belor! - Exclamou o anjo -Então mandaram você? A coisa deve estar ficando séria pro seu chefe colocar um peixe grande na jogada.

-Sem piadinhas, seu pária, onde esta a mulher? - Sua voz era como um trovão.

- Longe do seu alcance,você vai ter que passar por mim pra chegar a ela, quer tentar a sorte, fedorento?

O daemon se jogou pra frente como uma locomotiva, agarrou o anjo pelo pescoço e o levantou do chão, com a outra mão desferiu um soco que acertou em cheio a barriga do anjo, um filete de sangue escorreu pela sua boca.

-Você me conhece, pária, eu sou o flagelo da babilônia, senhor dos ratos, pai dos amaldiçoados.

-Sei, sei, amante de Algoria, assassino de Amael,carrasco da sétima ilha do lago de fogo, devorador de carne humana, um lixo sem valor, eh isso que voce é. – O sangue do anjo já formava uma pequena poça no chão.

-Como ousa, verme?
Mais rápido do que o daemon pudesse pensar o anjo se soltou de suas mãos, em um segundo estava no chão, no outro aplicava um golpe no joelho do gigante, ouviu a articulação dele estourar na hora, um soco na garganta e o daemon gaspeou sem ar, os dois dedos finos do anjo apertaram os olhos negros de Belor até este se contorcer sem vida no chão.

-E você sabe quem eu sou, idiota? Amael era meu amigo, essa é por ele.

O anjo deu um chute na cabeça sem vida do corpo no chão,ossos se quebraram e massa encefálica sujou o all star do anjo.Dentro do armário Maria Eduarda assistia a tudo atônita, acabara de presenciar uma batalha celestial,uma morte que olhos humanos não deveriam assistir. Os pêlos de seu braço se eriçaram, adrenalina e um pouco de tesão subiram a sua cabeça, quem era aquele garoto que podia fazer tudo aquilo sem nem piscar?E quem era aquele homem morto no chão?Que diabos de nome é Belor afinal?

O anjo abriu a porta do armário, limpando o sangue de sua boca:
- Temos que sair daqui agora, Maria, se os outros vierem não sei se vou conseguir dar conta.

O anjo puxou uma mala e enfiou tudo o que conseguiu nela, umas roupas, sua cerveja, três livros, e uma pequena caixa de madeira. Perguntou para ela:
-Você tem algum lugar que possamos ir?
-A casa dos meus pais em petrópolis, acho que podemos nos esconder um tempo lá, se voce quiser...

O anjo a puxou pelo braço e saiu pela porta, Se Belor estava ali significava que Akim e Amel estavam também, não podia perder nem mais um segundo.

Continua...