sexta-feira, julho 14, 2006

A EXPERIÊNCIA

Sentou-se e acendeu um cigarro, tragou e observou a fumaça que saía de sua boca fazer formas bizarras no ar, uma voz lhe disse que aquilo ainda iria matá-lo. Da janela podia sentir o cheiro de bueiros abertos, perfume barato, e o escapamento intoxicante de carros velhos que passavam por ali sem notar sua presença. Não se lembrava de alugar aquele apartamento, e ainda não conseguia entender o que fazia ali. Uma voz lhe disse para comer alguma coisa, levantou-se então e foi até a cozinha.A grande geladeira o assustara quando a vira pela primeira vez. Era maior do que ele, e o barulho que fazia não o deixava dormir direito. Enlatados, comida chinesa e cerveja importada lotavam as prateleiras. Pegou uma cerveja na geladeira e deu um gole, apanhou então um box que continha uma carne malcheirosa e alguns legumes, “preciso comer meus vegetais”, pensou. Olhou na gaveta e achou um garfo com as suas iniciais, G.B., estranhou aquilo, mas as coisas pareciam não fazer mais sentido para ele nos últimos tempos. Sentou-se junto à janela e observou a rua, vagabundos cambaleavam se escorando em outros vagabundos, prostitutas faziam o que elas fazem na rua todos os dias, ratos se alimentavam da escória dos homens. Viu um homem ser assaltado por um outro homem, a vítima era um senhor franzino, de óculos, carregando uma bengala e uma grande sacola de compras, o assaltante era um negro alto, arrancou a sacola do velho com violência enquanto apontava uma faca para sua barriga, o velho não parecia contente. Uma voz lhe disse para fazer alguma coisa, outra voz lhe disse que aquilo não era da sua conta, tomou mais um gole de cerveja. A campainha tocou “TRIM... TRIM” o som lhe era familiar, mas a campainha não havia tocado em todo esse tempo que estava ali, lembrou de um amigo seu de infância, e de um sonho estranho que teve na noite anterior. Foi até a porta. No chão uma caixa de papelão, nenhuma alma viva por perto, apenas uma infinidade de portas e os sons de pessoas que levavam suas vidas sem notar sua existência. Uma voz lhe disse para pegar a caixa , pegou a caixa então e voltou para dentro, colocou-a em cima da mesa e a abriu, isopor, fita durex, um bilhete, e uma faca, uma voz lhe disse que aquela era uma bela faca. No bilhete apenas três palavras “OLHE PELA JANELA” voltou para a janela e olhou para baixo, se surpreendeu, uma mulher linda, pele clara, cabelos longos e bem tratados, não era como as prostitutas baratas que ganhavam a vida ali, era uma loira alta, parecia ter os olhos claros e usava um batom vermelho, muito vermelho, estava com um vestido preto que parecia caríssimo, um colar de pérolas e um salto que parecia alto demais para qualquer mulher usar. Uma voz lhe disse para matá-la, olhou para a faca, percebeu então que estava louco...