quinta-feira, abril 26, 2007

Caminhou pelo canto do corredor como tinha se acostumado a fazer, assim diminuia o número de esbarrões e xingamentos e tinha mais espaço para respirar. Não suportava ambientes lotados, isso era incomum para um asiático mas ele era assim. Parou bem em frente à porta da sala de aula "Literatura medieval"-dizia na placa, respirou fundo. Podia ver Michael vindo em sua direção, estava apressado. Levantou a mão, como que para dizer "Oi!", ele o empurrou para o lado, derrubando as suas coisas: "Lerdo, não tá vendo que a aula já começou?".Entrou na sala com seu peito inflado e sua confiança característica, todos eram pequenos perto dele.Se levantou, mas antes catou seu caderno e seus livros no chão, tirou a poeira da calça. Será que ele ao menos sabe meu nome?-se perguntou. Finalmente entrou na sala, lá estava o velho professor com seu olhar de reprovação. Podia ver duas meninas rindo num canto, estavam rindo para ele? Seus olhos brilharam de repente só para voltarem ao seu vazio característico um segundo depois, estavam rindo DELE.
Abaixou a cabeça e sentou na sua carteira, tentou absorver o que podia da aula mas não estava bem hoje. Havia acordado com aquela sensação de que o mundo não precisava dele, e que nada iria mudar se ele saísse do lugar. Finalmente se levantou , qualquer coisa era melhor do que os flatos do seu companheiro de quarto... voltou sua atenção à aula, fez uma pergunta, mas o professor não entendeu, era seu sotaque, perguntou de novo, ele não entendeu de novo, todos riram, Cho se encolheu em sua carteira, já devia ter aprendido sua lição."Japa imbecil" podia ouvir às suas costas, mas não se virou, havia aprendido que era pior.
A aula acabou, esperou sentado até os outros saírem, dois tapas na cabeça, "melhor do que ontem"-pensou, então veio o terceiro. Suspirou fundo e saiu da sala, iria tentar aparecer menos, sabia como fazer, como se tornar tão imperceptível que ninguém era capaz de dizer que havia alguém ali, mas aquilo o matava por dentro, era como admitir derrota, mas era melhor do que a humilhação.
Logo ao sair viu Jeanie na escada,talvez não fosse a hora de ficar invisível, mas ela estava conversando com alguém. Aquela menina era o sol para ele, como podia haver tanta beleza em uma pessoa só? Era ela que enchia sua mente de coisas boas, o fazia pensar que tudo podia ser melhor, havia conversado com Jeanie uma vez, ela havia sido gentil.Quando estava sozinho, as vezes imaginava que estavam conversando, só os dois, podia ficar horas assim. Mas ela viu que ele a estava olhando com aquela cara de bobo, e o namorado também percebeu, capitão do time de basquete, como era grande.Era com ele que ela conversava na escada, o grandalhão fez menção de ir na direção de Cho, mas ela o segurou, eles riram dele, "aberração"-o namorado disse quando ele passou por eles.
No refeitório ninguém o incomodou, sentava-se estrategicamente numa posição em que quase ninguém podia vê-lo, mas ele podia ver todos eles, ele sabia o nome de muitos, sabia com quem andavam, do que gostavam, sabia isto de sua observação diária no refeitório, mas eles nunca se lembrariam dele,nunca teriam saudade dele no futuro e o pior , nunca parariam por dois minutos para conversar com ele. O sentimento de insignificância desta vez foi insuportável, veio a sua mente o plano, tentou pensar em alguma outra coisa, mas não conseguiu, as imagens eram muito fortes, uma seqüência bem ordenada. Chorou sozinho,levou as mãos ao rosto, ao abaixá-las uma expressão de raiva , havia uma maneira de fazê-los lembrar...


Eu não concordo, mas eu entendo. Alguns não conseguem manter a besta na coleira e dá no que dá. Mas se cada um de nós tomasse um pouco do seu tempo pra fazer uma coisa boa para aquele cara, ou aquela menina que não têm amigo nenhum, que só anda pelos cantos, afundados na melancolia, talvez pudéssemos mudar a vida deles. Ignorar uma pessoa alimenta aquele vazio dentro dela, que só pode ser preenchido por aquilo que sobrou daquela personalidade, e o que sobrou geralmente não é nada bonito.

quarta-feira, abril 25, 2007

Seria aniversário da minha avó hoje
Muita saudade
Nós nos odiávamos e nos amávamos muito
Nos sentimos traídos quando Deus tira de nós aquilo que amamos
Mas é puro egoísmo
Tenho certeza de que ela está em paz onde quer que esteja
Life goes on
Muita saudade...

terça-feira, abril 24, 2007



UMA VELA VIRTUAL PARA O SANTO GUERREIRO...

quinta-feira, abril 19, 2007

O CRIADOR E AS CRIATURAS

Caminhou entre eles como sempre fazia aos domingos, jornal embaixo do braço, beagle na coleira, o disfarce perfeito, adorava isso. Deixava todas as preces e pedidos desse dia para o atendimento automático, e eles pareciam gostar. Depois de todo o trabalho que teve, gostava de tirar o dia para observá-los, havia algo no olhar deles que o fascinava,anjos não tinham aquilo. E como eram variados no seu comportamento e visual.Parou para catar o cocô do cachorro, não gostava daquilo, humanos eram mais espertos, achava uma bela invenção o tal do banheiro, como não havia pensado nisso antes?Trocou algumas palavras com Dr. Manoel, seu parceiro de buraco, mas não estava afim de jogar este dia, queria só relaxar, pediu um cigarro pro amigo e foi se sentar.Logo ao se acomodar no banquinho da pequena praça foi surpreendido por uma bela visão, uma daquelas mulatas que só aparecem no carnaval,1,80m,olhos verdes, lábios carnudos, corpo violão, uma beleza! Tinha orgulho de sua criação. Eram bonitos estes humanos, especialmente as mulheres.Ah, as mulheres! teve trabalho ali . Depois de finalizar o homem viu que faltava alguma coisa, como eles iam se reproduzir?Quebrou a cabeça, passou noites e noites acordado, contratou um especialista para fazer o formato dos seios, pediu pro seu filho desenhar o útero ,quando tinha terminado tudo deixou o tal ciclo menstrual na mão de seus assistentes e foi bater uma bolinha. Que furada...

quarta-feira, abril 04, 2007

Se eu escrevi a nota ela não é mental, dumbass.
Nota mental: Títulos são importantes, volte a usá-los.
"O pecado não existe, exceto na medida em que o criamos.Somos nós, portanto, que devemos destruí-lo.Se escolhermos fazer o mal, ele existirá até que o destruamos.O bem não podemos fazê-lo, pois ele é o próprio alento do Universo;Mas podemos escolher respirar e viver nele e com ele."
- Gibran Kahlil Gibran -

Olhou para a sombra como quem olha para casa. Lembrou-se de quem era e sorriu, os tempos eram outros, ele era o mesmo. Abaixo dele jazia um corpo inerte, o sangue escorria lentamente e formava uma poça abaixo de seus pés,estava descalço, mas não tentou se afastar, podia sentir que o sangue ainda estava quente, era uma sensação familiar . Sua redenção já não valia mais nada. Lembrou-se das palavras de seu mestre, três vidas atrás, e chorou. Séculos de controle e equilíbrio perdidos, e porque? Um capricho, uma besteira. Já não podia fazer mais nada, secou suas lágrimas como se não se importasse mais, tentou esquecer o que era a bondade, riu lembrando de que havia conhecido a compaixão,levou a mão à cabeça e caminhou para as sombras, não olhou para trás...estava perdido.