Abaixou a cabeça e sentou na sua carteira, tentou absorver o que podia da aula mas não estava bem hoje. Havia acordado com aquela sensação de que o mundo não precisava dele, e que nada iria mudar se ele saísse do lugar. Finalmente se levantou , qualquer coisa era melhor do que os flatos do seu companheiro de quarto... voltou sua atenção à aula, fez uma pergunta, mas o professor não entendeu, era seu sotaque, perguntou de novo, ele não entendeu de novo, todos riram, Cho se encolheu em sua carteira, já devia ter aprendido sua lição."Japa imbecil" podia ouvir às suas costas, mas não se virou, havia aprendido que era pior.
A aula acabou, esperou sentado até os outros saírem, dois tapas na cabeça, "melhor do que ontem"-pensou, então veio o terceiro. Suspirou fundo e saiu da sala, iria tentar aparecer menos, sabia como fazer, como se tornar tão imperceptível que ninguém era capaz de dizer que havia alguém ali, mas aquilo o matava por dentro, era como admitir derrota, mas era melhor do que a humilhação.
Logo ao sair viu Jeanie na escada,talvez não fosse a hora de ficar invisível, mas ela estava conversando com alguém. Aquela menina era o sol para ele, como podia haver tanta beleza em uma pessoa só? Era ela que enchia sua mente de coisas boas, o fazia pensar que tudo podia ser melhor, havia conversado com Jeanie uma vez, ela havia sido gentil.Quando estava sozinho, as vezes imaginava que estavam conversando, só os dois, podia ficar horas assim. Mas ela viu que ele a estava olhando com aquela cara de bobo, e o namorado também percebeu, capitão do time de basquete, como era grande.Era com ele que ela conversava na escada, o grandalhão fez menção de ir na direção de Cho, mas ela o segurou, eles riram dele, "aberração"-o namorado disse quando ele passou por eles.
No refeitório ninguém o incomodou, sentava-se estrategicamente numa posição em que quase ninguém podia vê-lo, mas ele podia ver todos eles, ele sabia o nome de muitos, sabia com quem andavam, do que gostavam, sabia isto de sua observação diária no refeitório, mas eles nunca se lembrariam dele,nunca teriam saudade dele no futuro e o pior , nunca parariam por dois minutos para conversar com ele. O sentimento de insignificância desta vez foi insuportável, veio a sua mente o plano, tentou pensar em alguma outra coisa, mas não conseguiu, as imagens eram muito fortes, uma seqüência bem ordenada. Chorou sozinho,levou as mãos ao rosto, ao abaixá-las uma expressão de raiva , havia uma maneira de fazê-los lembrar...
Eu não concordo, mas eu entendo. Alguns não conseguem manter a besta na coleira e dá no que dá. Mas se cada um de nós tomasse um pouco do seu tempo pra fazer uma coisa boa para aquele cara, ou aquela menina que não têm amigo nenhum, que só anda pelos cantos, afundados na melancolia, talvez pudéssemos mudar a vida deles. Ignorar uma pessoa alimenta aquele vazio dentro dela, que só pode ser preenchido por aquilo que sobrou daquela personalidade, e o que sobrou geralmente não é nada bonito.