quinta-feira, junho 10, 2010

Delírio

Entregou-se à loucura, ouvia vozes, conversava com paredes, machucava-se com lâminas afiadas só para se sentir real. Brigou com seus pais,não deu bola quando seus amigos disseram que devia se tratar, cuspiu na cara deles e os chamou pelo que eram, hipócritas capitalistas, o que eles sabiam de seus ideais? Foi para as ruas, passava os dias distribuindo folhetos e reunindo-se com seus camaradas, adorava cheirar, fumar um baseado e discutir os rumos do movimento, só eles a entendiam. No final já não se olhava no espelho, tinha decidido não se molhar mais, os inimigos haviam colocado um veneno na água,e podia jurar que a seguiam em um santana preto todos os dias. 7 dias sem tomar banho, não se preocupava mais em se limpar.Havia achado um lugar para morar em um dos armazéns do porto, estava segura ali, tinha certeza, o governo nunca a procuraria num lugar daqueles.Foi estuprada e morta numa sexta feira, 35 dias se passaram até que alguém notou um cachorro vadio, carregando uma perna, e atravessando a Rodrigues Alves com o rabo abanando, foi o único membro encontrado e o único sepultado em seu enterro.