segunda-feira, maio 29, 2006

REI
Sentado nas planícies de meu reino, com minha coroa bela e dourada em minha cabeça, escrevi uma carta. Não uma carta de amor, nem uma daquelas cartas que se escreve a amigos distantes, somente uma carta,uma carta falando dos meus eus, uma carta escrita à pena, em um papel branco como um angorá, uma carta escrita com a única tinta que eu fui ensinado a usar, sangue, sangue fresco e vermelho, sangue com gosto de metal, sangue com cheiro de verdade. Enterrei minha carta aos pés do carvalho mais antigo de meu reino, onde meus ancestrais antes de mim dançaram, cantaram e se amaram. Onde meus ancestrais morreram sem terem conhecido seus eus , nem escrito cartas a sangue fresco e vermelho. Após enterrar minha carta abracei o carvalho, e aos passar meus dedos em seus vincos e sentir o cheiro de vida que a árvore majestosa exalava,chorei,um choro calmo, sem soluços infiéis, nem gemidos desleais, e ao chorar me dei conta de que aquela planície não era minha, aquele reino não era meu, a coroa em minha cabeça era apenas metal, um metal belo e dourado, mas apenas metal,e mais do que tudo aquele carvalho não era meu, tudo o que eu possuia era meu sangue e meus eus, e eles agora estavam enterrados aos pés do carvalho. Percebi que se alguém pertencia a alguém naquela planície, era eu ao carvalho. Despi-me de minha coroa, assassinei minhas ilusões, privei-me de meu poder e parti daquela planície, para nunca mais voltar.

1 Comments:

Blogger Tykhe said...

Puxa, quantas vírgulas, cara!
=oP
Saudades, amor...
Meu reino por sua metade cachorra (yeah, right... como se a outra metade também não o fosse...) aqui cafungando meu pescoço...
Beijo de esquimó

1:06 AM  

Postar um comentário

<< Home