terça-feira, agosto 15, 2006

A EXPERIÊNCIA II

O estranho abriu a porta, aquele cheiro de mofo e ar estagnado encheu suas narinas e penetrou lentamente em seus pulmões, adorava aquele cheiro. Sabia que já esteve naquele lugar, havia algo naquelas velhas paredes que não lhe era estranho, a camada de poeira no chão denotava que há muito tempo ninguém entrava ali. As janelas estavam travadas por tábuas de uma madeira vagabunda, o descuido com que o trabalho foi feito tornava impossível distinguir se aquilo estava ali para manter alguém do lado de fora, ou se estava destinado a manter alguém do lado de dentro. Olhou para a chave em sua mão, a mulher disse que o que ele procurava estava ali, ela olhou para ele como se o conhecesse, aquilo o irritou. Por um momento sentiu-se culpado por ter tirado sua vida, mas alguma coisa lhe dizia que ele nunca foi um homem de "momentos", a morte dela lhe livrou das vozes, e isso lhe bastava. Entrou em um dos cômodos, era um quarto pequeno, de teto baixo, paredes sujas, algo parecido com sangue seco. Imediatamente uma chuva de memórias invadiu sua mente, sangue, o som do rádio tocando uma música conhecida,um homem grande e forte, uma mulher chorando, duas crianças no chão, ele era uma dessas crianças? Como que por instinto moveu-se até um dos cantos do quarto, pisou com força em uma tábua falsa que quebrou imediatamente. De dentro do vão formado no chão retirou uma caixa de metal, talvez a caixa tivesse sido uma merendeira um dia, aquilo lhe pertencia, ele tinha certeza. Alguém acendeu um cigarro atrás dele, tudo escureceu, estava caído no chão agora, sua cabeça sangrava...