ON THE ROAD

Maria dirigia seu Audi pelas curvas em direção à serra, o anjo parecia incomodado, não gostava de andar de carro, gostava dos filmes na tevê onde as perseguições em alta velocidade eram o grande show, mas havia algo nessas máquinas que o incomodava. Maria não conseguia esconder um sorriso maldoso ao perceber o desconforto do anjo e acelerava um pouco mais só para vê-lo se contorcer um pouco. “Então ele tem sentimentos”- ela pensava.

Maria decidiu quebrar um pouco o gelo, o anjo não havia falado nada desde que fugiram de seu apartamento horas antes, e ela não conseguia ficar muito tempo sem falar, o silêncio a incomodava, abaixou o rádio:
-E então, me diga , como é ser uma criatura celestial?
O anjo a olhou com desdém: “é nunca questionar sua missão, viver com um único propósito, desviar do caminho é se unir ao inimigo.” Parecia recitar um ensinamento militar.
-Não existe meio-termo para criaturas como nós,Maria, essa é a beleza de vocês humanos,não percebe que vocês têm tudo?
-Mas e todo o sofrimento que existe no mundo?
-Não seja ingênua, Maria Eduarda, é tudo obra de vocês, o perigo de se ter escolhas são aqueles que escolhem a si mesmos antes de tudo, um de vocês tentou mostrar o que é verdadeiro sacrifício, mas me parece que seus ensinamentos morreram com ele...
-Mas ele não era um celestial como vocês?
-O Nazareno? não que eu saiba...
-Mas...ele era o filho de Deus...
-E você o que é Maria?

Ela agora começava a entender...