terça-feira, maio 19, 2009

Vivendo na Selva


Começo a escrever para que no futuro me recorde do que vivi aqui, na cidade de Tabatinga, nos confins da Amazônia, onde o Brasil se encontra com a Colômbia e o Peru. Acho que seria de bom gosto iniciar dizendo por que estou aqui, e talvez isto sirva para que eu mesmo entenda melhor minhas motivações e meus anseios, porque me alistei no exército, e porque fui voluntario pra selva, dois questionamentos que sempre vinham a minha cabeça durante o treinamento de sobrevivência, e que me davam forca ao invés de dúvidas, todas as vezes. Eu estou aqui porque acredito no que Nietzsche disse, que o que não nos mata nos torna mais fortes, que se cresce mais com a dor do que com carinho, estou aqui para mostrar a mim mesmo de que material sou feito, e o quanto posso agüentar, estou aqui para olhar para o abismo. No treinamento aprendi o que realmente é fome, o que é sede, o que é dor e o que é exaustão, tive exatamente o que procurava, e apesar de me amaldiçoar, não me arrependi. Estou aqui para fazer medicina onde a necessidade de um medico é real, e para adquirir uma experiência que me fez falta quando me formei. Estou aqui porque fiz uma promessa antes de entrar na faculdade, e eu sempre corro atrás de cumprir minhas promessas, e na grande maioria das vezes as cumpro. Estou aqui porque cresci em uma família excepcional, onde nunca precisei me preocupar com muita coisa além de estudar, enquanto meu pai foi feirante quando muleque, e minha mae tinha um pai psicótico e so um par de sapatos, o que uma pessoa como eu poderia saber sobre sacrifício? Eu estou aqui porque desejo me sacrificar, porque quero merecer tudo aquilo que eu tenho e sou. Eu sei que a maioria das pessoas não gastaria mais de meio segundo com esse tipo de questionamento existencial, a maioria das pessoas não considera a possibilidade de sacrificar seu conforto, mas eu nunca fiz parte da maioria, e me orgulho disso.